Da Alma para o Coração [109]

  • Devido à fusão de comunidades e uma vez que, em consequência; o fórum.Pt vai ser eliminado, copio para aqui, o que sobrou do meu tópico no fórum.Pr.


    O tópico destina-se a postar poemas (escritos ou cantados), por todos os users que se interessam pelo tema.


    ===/\===

    Ternura

    Desvio dos teus ombros o lençol,

    que é feito de ternura amarrotada,

    da frescura que vem depois do sol,

    quando depois do sol não vem mais nada...


    Olho a roupa no chão: que tempestade!

    Há restos de ternura pelo meio,

    como vultos perdidos na cidade

    onde uma tempestade sobreveio...


    Começas a vestir-te, lentamente,

    e é ternura também que vou vestindo,

    para enfrentar lá fora aquela gente

    que da nossa ternura anda sorrindo...


    Mas ninguém sonha a pressa com que nós

    a despimos assim que estamos sós!



    David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"


    ===/\===


    ===/\===


    A MULHER


    Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!

    Como sabes ser doce e desgraçada!

    Como sabes fingir quando em teu peito

    A tua alma se estorce amargurada!


    Quantas morrem saudosas duma imagem.

    Adorada que amaram doidamente!

    Quantas e quantas almas endoidecem

    Enquanto a boca ri alegremente!


    Quanta paixão e amor às vezes têm

    Sem nunca o confessarem a ninguém

    Doce alma de dor e sofrimento!


    Paixão que faria a felicidade.

    Dum rei; amor de sonho e de saudade,

    Que se esvai e que foge num lamento!


    Florbela Espanca


    ===/1===

    A Torpe Sociedade onde Nasci


    Ao ver um garotito esfarrapado

    Brincando numa rua da cidade,

    Senti a nostalgia do passado,

    Pensando que já fui daquela idade.


    Que feliz eu era então e que alegria...

    Que loucura a brincar, santo delírio!...

    Embora fosse mártir, não sabia

    Que o mundo me criava p'ra o martírio!


    Já quando um homenzinho, é que senti

    O dilema terrível que me impôs

    A torpe sociedade onde nasci:

    — De ser vítima humilde ou ser algoz...


    E agora é o acaso quem me guia.

    Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,

    Sou tudo: mas não sou o que seria

    Se o mundo fosse bom — como não é!


    Tuberculoso!... Mas que triste sorte!

    Podia suicidar-me, mas não quero

    Que o mundo diga que me desespero

    E que me mato por ter medo à morte...



    António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."


    ===/\===




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  • Balada de Neve


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    Batem leve, levemente,

    como quem chama por mim.

    Será chuva? Será gente?

    Gente não é, certamente

    e a chuva não bate assim.


    É talvez a ventania:

    mas há pouco, há poucochinho,

    nem uma agulha bulia

    na quieta melancolia

    dos pinheiros do caminho…


    Quem bate, assim, levemente,

    com tão estranha leveza,

    que mal se ouve, mal se sente?

    Não é chuva, nem é gente,

    nem é vento com certeza.


    Fui ver. A neve caía

    do azul cinzento do céu,

    branca e leve, branca e fria…

    . Há quanto tempo a não via!

    E que saudades, Deus meu!


    Olho-a através da vidraça.

    Pôs tudo da cor do linho.

    Passa gente e, quando passa,

    os passos imprime e traça

    na brancura do caminho…


    Fico olhando esses sinais

    da pobre gente que avança,

    e noto, por entre os mais,

    os traços miniaturais

    duns pezitos de criança…


    E descalcinhos, doridos…

    a neve deixa inda vê-los,

    primeiro, bem definidos,

    depois, em sulcos compridos,

    porque não podia erguê-los!…


    Que quem já é pecador

    sofra tormentos, enfim!

    Mas as crianças, Senhor,

    porque lhes dais tanta dor?!…

    Porque padecem assim?!…


    E uma infinita tristeza,

    uma funda turbação

    entra em mim, fica em mim presa.

    Cai neve na Natureza

    e cai no meu coração.


    Augusto Gil


    ===/\===



    ===/\===

    Camões, Grande Camões

    Camões, grande Camões, quão semelhante

    Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

    Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,

    Arrostar co'o sacrílego gigante;


    Como tu, junto ao Ganges sussurrante,

    Da penúria cruel no horror me vejo;

    Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,

    Também carpindo estou, saudoso amante.


    Ludíbrio, como tu, da Sorte dura

    Meu fim demando ao Céu, pela certeza

    De que só terei paz na sepultura.


    Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...

    Se te imito nos transes da Ventura,

    Não te imito nos dons da Natureza.



    Manuel Maria Barbosa du BOCAGE, in 'Rimas'


    ===/\===


    Testamento


    À prostituta mais nova

    Do bairro mais velho e escuro,

    Deixo os meus brincos, lavrados

    Em cristal, límpido e puro...


    E àquela virgem esquecida

    Rapariga sem ternura,

    Sonhando algures uma lenda,

    Deixo o meu vestido branco,

    O meu vestido de noiva,

    Todo tecido de renda...


    Este meu rosário antigo

    Ofereço-o àquele amigo

    Que não acredita em Deus...


    E os livros, rosários meus

    Das contas de outro sofrer,

    São para os homens humildes,

    Que nunca souberam ler.


    Quanto aos meus poemas loucos,

    Esses, que são de dor

    Sincera e desordenada...

    Esses, que são de esperança,

    Desesperada mas firme,

    Deixo-os a ti, meu amor...


    Para que, na paz da hora,

    Em que a minha alma venha

    Beijar de longe os teus olhos,


    Vás por essa noite fora...

    Com passos feitos de lua,

    Oferecê-los às crianças

    Que encontrares em cada rua...


    Alda Lara in "Poesia de Angola"


    Encontrei este poema cantado por Teresa Tarouca


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  • Lembrei-me de um pequenino poema escrito por uma colega de Liceu, no longínquo 1968. Nunca o esqueci. É um hino à liberdade


    xxx/\xxx


    O balão do Gonçalo


    Gon tinha um balão, um balão azul e vermelho

    Gon tinha um balão, preso por um cordel

    Mas o cordel partiu


    O balão fugiu

    E Gon olhou


    Gon pensou que o balão queria ser livre

    E como ele sabia que Liberdade

    Era a maior das maravilhas


    Gon olhou o balão

    Sorriu... e não chorou.


    Vera Cristina (7º. letras) - In: Jornal O Estudante


    ===/\===




    ===/\===



    Monangambé


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    Naquela roça grande

    não tem chuva

    é o suor do meu rosto

    que rega as plantações;


    Naquela roça grande

    tem café maduro

    e aquele vermelho-cereja

    são gotas do meu sangue

    feitas seiva.


    O café vai ser torrado

    pisado, torturado,

    vai ficar negro,

    negro da cor do contratado.

    Negro da cor do contratado!


    Perguntem às aves que cantam,

    aos regatos de alegre serpentear

    e ao vento forte do sertão:


    Quem se levanta cedo?

    quem vai à tonga?

    Quem traz pela estrada longa

    a tipóia ou o cacho de dendém?


    Quem capina e em paga recebe desdém

    fuba podre, peixe podre,

    panos ruins, cinquenta angolares

    "porrada se refilares"?


    Quem?


    Quem faz o milho crescer

    e os laranjais florescer?


    - Quem?


    Quem dá dinheiro para o patrão comprar

    máquinas, carros, senhoras

    e cabeças de pretos para os motores?


    Quem faz o branco prosperar,

    ter barriga grande

    - ter dinheiro?


    - Quem?


    E as aves que cantam,

    os regatos de alegre serpentear

    e o vento forte do sertão

    responderão:


    - "Monangambé..."


    Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

    Deixem-me beber maruvo

    e esquecer diluído

    nas minhas bebedeiras


    - "Monangambé..."


    António Jacinto in: Poemas (1961)


    Este poema é, para mim, um dos mais significativos do nacionalismo angolano e foi magistralmente musicado e interpretado por Rui Mingas



    ===/\===

    As Sete Penas do Amor Errante

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    Eu não sei se os teus olhos se gaivotas

    mas era o mar e a Índia já perdida

    as ilhas e o azul o longe e as rotas

    minha vida em pedaços repartida.


    Eu não sei se o teu rosto se um navio

    mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais

    meu amor a partir-se à beira-rio

    em uma nau chamada nunca mais.


    Eu não sei se os teus dedos se as amarras

    mas era algo que partia e que

    ficava. Ou talvez cordas de guitarras

    ó meu amor de embarque desembarque.


    Eu não sei se era amor ou se loucura

    mas era ainda o verbo descobrir

    ó meu amor de risco e de aventura

    não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir.


    Eu não sei se era perto se distante

    mas era ainda o mar desconhecido

    ou Camões a penar por Violante

    as sete penas do amor proibido.


    Eu não sei se ventura se castigo

    mas era ainda o sangue e a memória

    talvez o último cantar de amigo

    amor de perdição amor de glória.


    Eu não sei se teu corpo se meu chão

    mas era ainda a terra e o mar. E em cada

    teu gesto a grande peregrinação

    das sete penas do amor lusíada.


    Manuel Alegre, in "Atlântico"

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  • Mãe:


    Que desgraça na vida aconteceu,
    Que ficaste insensível e gelada?
    Que todo o teu perfil se endureceu
    Numa linha severa e desenhada?

    Como as estátuas, que são gente nossa
    Cansada de palavras e ternura,
    Assim tu me pareces no teu leito.
    Presença cinzelada em pedra dura,
    Que não tem coração dentro do peito.

    Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
    Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
    Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
    Por detrás do terror deste vazio.

    Mãe:
    Abre os olhos ao menos, diz que sim!
    Diz que me vês ainda, que me queres.
    Que és a eterna mulher entre as mulheres.
    Que nem a morte te afastou de mim!


    Miguel Torga


    ===/\===


    O RELÓGIO

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    Pára-me um tempo por dentro

    passa-me um tempo por fora.


    O tempo que foi constante

    no meu contra tempo estar

    passa-me agora adiante

    como se fosse parar.


    Por cada relógio certo

    no tempo que sou agora

    há um tempo descoberto

    no tempo que se demora.


    Fica-me o tempo por dentro

    passa-me o tempo por fora.


    José Carlos ARY DOS SANTOS


    ===/|===



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    Algumas coisas são explicadas pela ciência, outras pela fé. A Páscoa ou Pessach é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais que fé, Páscoa é amor.

    Albert Einstein


    ===/\===



    LI UM DIA, NÃO SEI ONDE


    Li um dia, não sei onde,

    Que em todos os namorados

    Uns amam muito, e os outros

    Contentam-se em ser amados.

    Fico a cismar pensativa
    Neste mistério encantado...
    Diga prá mim: de nós dois
    Quem ama e quem é amado?...



    Florbela Espanca



    xxx\/xxx



    Duvida da luz dos astros,

    De que o sol tenha calor,

    Duvida até da verdade,

    Mas confia em meu amor.


    William Shakespeare in: Hamlet

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  • Encontra-me


    Procura-me debaixo da pele

    para além das lágrimas e dos sorrisos .

    Urge que me encontres
    que juntes alma e corpo
    costures as partes rasgadas
    e devolvas ao corpo a leveza
    à alma o encanto quase infantil.

    Procura nas estrelas e na lama
    nem sei onde me perdi.
    Se foi num dia de chuva, num adeus
    se num dia de Sol no brilho de um olhar.
    Olha para mim, muito para além do pareço.
    Vou fugir tantas vezes me queiras agarrar.
    Vou esconder-me na realidade e tapar-me
    com o manto que teço com linha de letras.
    O poema meu véu enrugado, rasgado e sujo
    distorce a minha verdade.

    Procura-me, que cansa viver assim
    sempre em partes desiguais estilhaçadas.
    Prende-me no teu sorriso para que eu não fuja
    ...para que eu não queira fugir.
    Procura-me que deixo que me encontres.


    Ana Moncado - In: As ondas da minha praia



    XXX/\XXX



    25 de Abril de 1974

    Revolução dos cravos

    =Dia da Liberdade=



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    ===/\===



    DESLUMBRAMENTOS



    Milady, é perigoso contemplá-la,

    Quando passa aromática e normal,

    Com seu tipo tão nobre e tão de sala,

    Com seus gestos de neve e de metal.



    Sem que nisso a desgoste ou desenfade,

    Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas,

    Eu vejo-a, com real solenidade,

    Ir impondo toilettes complicadas!...



    Em si tudo me atrai como um tesoiro:

    O seu ar pensativo e senhoril,

    A sua voz que tem um timbre de oiro

    E o seu nevado e lúcido perfil!



    Ah! Como me estonteia e me fascina...

    E é, na graça distinta do seu porte,

    Como a Moda supérflua e feminina,

    E tão alta e serena como a Morte!...



    Eu ontem encontrei-a, quando vinha,

    Britânica, e fazendo-me assombrar;

    Grande dama fatal, sempre sozinha,

    E com firmeza e música no andar!



    O seu olhar possui, num jogo ardente,

    Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;

    Como um florete, fere agudamente,

    E afaga como o pêlo de um regalo!



    Pois bem. Conserve o gelo por esposo,

    E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,

    O modo diplomático e orgulhoso

    Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.



    E enfim prossiga altiva como a Fama,

    Sem sorrisos, dramática, cortante;

    Que eu procuro fundir na minha chama

    Seu ermo coração, como um brilhante.



    Mas cuidado, milady, não se afoite,

    Que hão de acabar os bárbaros reais;

    E os povos humilhados, pela noite,

    Para a vingança aguçam os punhais.



    E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,

    Sob o cetim do Azul e as andorinhas,

    Eu hei de ver errar, alucinadas,

    E arrastando farrapos – as rainhas.


    Cesário Verde in: O livro de Cesário Verde


    ===/\===


      

    Amor é fogo que arde sem se ver


    Amor é fogo que arde sem se ver;

    É ferida que dói e não se sente;

    É um contentamento descontente

    É dor que desatina sem doer;


    É um não querer mais que bem querer;

    É solitário andar por entre a gente;

    É nunca contentar-se de contente;

    É cuidar que se ganha em se perder;


    É querer estar preso por vontade;

    É servir a quem vence, o vencedor;

    É ter com quem nos mata lealdade.


    Mas como causar pode seu favor

    Nos corações humanos amizade,

    Se tão contrário a si é o mesmo amor?


    Luís de Camões —in: Rimas


    ===/\===


    1º. domingo de Maio



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    Dia das Mães ou Dia da Mãe é uma data comemorativa que homenageia anualmente a figura familiar materna e a maternidade. A data de comemoração varia de acordo com o país. Em Portugal é comemorado no primeiro domingo do mês de Maio e no Brasil no segundo domingo do mês de maio. Wikipédia


    Em Portugal quando eu era nova, era comemorado no dia 8 de Dezembro - dia da Imaculada Conceição (dia escolhido pela Mocidade Portuguesa Feminina na década de 50). Na década de 70 o dia foi alterado, a fim de permitir que o 8 de Dezembro ficasse exclusivamente ligado a Nossa Senhora, padroeira de Portugal



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    ===/|\===


    Lamento

    Um diluvio de luz cae da montanha:

    Eis o dia! eis o sol! o esposo amado!

    Onde ha por toda a terra um só cuidado

    Que não dissipe a luz que o mundo banha?


    Flor a custo medrada em erma penha,

    Revolto mar ou golfo congelado,

    Aonde ha ser de Deus tão olvidado

    Para quem paz e alivio o céo não tenha?


    Deus é Pae! Pae de toda a creatura:

    E a todo o ser o seu amor assiste:

    De seus filhos o mal sempre é lembrado...


    Ah! se Deus a seus filhos dá ventura

    N'esta hora santa... e eu só posso ser triste...

    Serei filho, mas filho abandonado!


    Antero de Quental, in 'Sonetos'


    ===/\===


    Sem depois



    Todas as vidas gastei

    para morrer contigo.


    E agora

    esfumou-se o tempo

    e perdi o teu passo

    para além da curva do rio.


    Rasguei as cartas.

    Em vão: o papel restou intacto.

    Só meus dedos murcharam, decepados.


    Queimei as fotos.

    Em vão: as imagens restaram incólumes

    e só meus olhos

    se desfizeram, redondas cinzas.


    Com que roupa

    vestirei minha alma

    agora que já não há domingos?


    Quero morrer, não consigo.

    Depois de te viver

    não há poente

    nem o enfim de um fim.


    Todas as mortes gastei

    para viver contigo.


    Mia Couto


    ===/\===


    Erros meus, má fortuna, amor ardente


    Erros meus, má fortuna, amor ardente

    Em minha perdição se conjuraram;

    Os erros e a fortuna sobejaram,

    Que pera mim bastava amor somente.


    Tudo passei; mas tenho tão presente

    A grande dor das cousas que passaram,

    Que as magoadas iras me ensinaram

    A não querer já nunca ser contente.


    Errei todo o discurso de meus anos;

    Dei causa [a] que a Fortuna castigasse

    As minhas mal fundadas esperanças.


    De amor não vi senão breves enganos.

    Oh! quem tanto pudesse, que fartasse

    Este meu duro Génio de vinganças!


    Luís de Camões

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  • Ponte de beijos



    Entre os teus lábios e os meus existe um mar de tantas coisas .

    E eu perco-me a navegar nisto que chamamos de amor ,

    ás vezes afogo-me , naufrago, e tu vens me buscar
    numa palavra inesperada, num gesto qualquer
    que arranjas para me surpreender.


    Ás vezes és tu que te perdes e eu não te encontro
    por entre as ondas sempre constantes,
    por entre as coisas que vão boiando no nosso mar.
    Queria uma ponte dos meus lábios aos teus
    um beijo eterno e nunca mais ter na boca
    o sabor a sal das lágrimas da saudade.
    São marés ... vão e vêm, carinhos teus
    e navego por entre tempestades de desejos
    de ... coisas ... essas coisas que nós temos só nossas.


    E as pontes, os beijos dados no quarto escuro
    ou no sol da rua , erguem-se e caiem
    vezes sem conta, eternizando o sentimento.
    Já pensei secar o mar para não ter de haver pontes de beijos.
    Ficávamos só tu e eu, sem mar ... sem coisas
    ... e sem beijos



    Ana Moncado in: As ondas da minha praia


    ===/\===


    Os Putos


    Uma bola de pano, num charco

    Um sorriso traquina, um chuto

    Na ladeira a correr, um arco

    O céu no olhar, dum puto.


    Uma fisga que atira ,a esperança

    Um pardal de calções, astuto

    E a força de ser, criança

    Contra a força dum chui, que é bruto.


    Parecem bandos de pardais à solta

    Os putos, os putos

    São como índios, capitães da malta

    Os putos, os putos

    Mas quando a tarde cai

    Vai-se a revolta

    Sentam-se ao colo do pai

    É a ternura que volta

    E ouvem-no a falar do homem novo

    São os putos deste povo

    A aprenderem a ser homens.


    As caricas brilhando ,na mão

    A vontade que salta ,ao eixo

    Um puto que diz ,que não

    Se a porrada vier, não deixo


    Um berlinde abafado ,na escola

    Um pião na algibeira ,sem cor

    Um puto que pede ,esmola

    Porque a fome lhe abafa ,a dor.


    José Carlos ARY DOS SANTOS


    XXX/\XXX


    Os putos é uma canção portuguesa, com letra de José Carlos Ary dos Santos e música de Paulo de Carvalho, em género de fado. A interpretação é de Carlos do Carmo e foi um grande marco da música portuguesa do pós-25 de Abril.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Putos




    ===/\===


    Sorriso audível das folhas


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    Sorriso audível das folhas,

    Não és mais que a brisa ali.

    Se eu te olho e tu me olhas,

    Quem primeiro é que sorri?

    O primeiro a sorrir ri.


    Ri, e olha de repente,

    Para fins de não olhar,

    Para onde nas folhas sente

    O som do vento passar.

    Tudo é vento e disfarçar.


    Mas o olhar, de estar olhando

    Onde não olha, voltou;

    E estamos os dois falando

    O que se não conversou.

    Isto acaba ou começou?


    Fernando Pessoa


    ===/1===


    \\\ 1 de Junho ///


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    Quando as crianças brincam
    E eu as oiço brincar,
    Qualquer coisa em minha alma
    Começa a se alegrar.


    E toda aquela infância
    Que não tive me vem,
    Numa onda de alegria
    Que não foi de ninguém.

    Se quem fui é enigma,

    E quem serei visão,
    Quem sou ao menos sinta
    Isto no coração.

    Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"



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    Criança que veio ao mundo

    Não pediu para nascer

    Precisa de amor profundo

    Para poder bem crescer


     .Crescem depressa as crianças

    Precisam muita atenção

    Elas são as esperanças

    Dos dias que ainda virão


     .Lugar que não tem criança

    Ou que não a vê por perto

    Só pode ter semelhança

    Na solidão do deserto


    .Por vezes não compreendem

    A lógica dos mais crescidos

    Pensam que não os entendem

    Sentem-se desprotegidos


     .Criança é sempre credora

    Da nossa compreensão

    Mesmo se protesta e chora

    Quantas vezes com razão


    .Têem pureza e meiguice

    Seu sentir é tão profundo

    Que delas já alguém disse

    Serem o melhor do mundo


    José Batista Vaz Pereira in: Os Beirões no Facebook




    Imagens da Internet


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  • Na Mão de Deus


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    Na mão de Deus, na sua mão direita,

    Descansou afinal meu coração.

    Do palácio encantado da Ilusão

    Desci a passo e passo a escada estreita.


    Como as flores mortais, com que se enfeita

    A ignorância infantil, despojo vão,

    Depois do Ideal e da Paixão

    A forma transitória e imperfeita.


    Como criança, em lôbrega jornada,

    Que a mãe leva ao colo agasalhada

    E atravessa, sorrindo vagamente,


    Selvas, mares, areias do deserto...

    Dorme o teu sono, coração liberto,

    Dorme na mão de Deus eternamente!


    Antero de Quental, in "Sonetos"


    ===/\===


    10 de Junho  

    Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas


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    Luís Vaz de Camões



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    Hino Nacional

    A PORTUGUESA

    (Letra completa)


    Heróis do mar, nobre povo,

    Nação valente, imortal,

    Levantai hoje de novo

    O esplendor de Portugal!

    Entre as brumas da memória,

    Ó Pátria sente-se a voz

    Dos teus egrégios avós,

    Que há-de guiar-te à vitória!


    Às armas, às armas!

    Sobre a terra, sobre o mar,

    Às armas, às armas!

    Pela Pátria lutar

    Contra os canhões marchar, marchar! 


     Desfralda a invicta Bandeira,

    À luz viva do teu céu!

    Brade a Europa à terra inteira:

    Portugal não pereceu

    Beija o solo teu jucundo

    O Oceano, a rugir d'amor,

    E teu braço vencedor

    Deu mundos novos ao Mundo! 


     Às armas, às armas!

    Sobre a terra, sobre o mar,

    Às armas, às armas!

    Pela Pátria lutar

    Contra os canhões marchar, marchar! 


     Saudai o Sol que desponta

    Sobre um ridente porvir;

    Seja o eco de uma afronta

    O sinal do ressurgir.

    Raios dessa aurora forte

    São como beijos de mãe,

    Que nos guardam, nos sustêm,

    Contra as injúrias da sorte. 


     Às armas, às armas!

    Sobre a terra, sobre o mar,

    Às armas, às armas!

    Pela Pátria lutar

    Contra os canhões marchar, marchar!


    Letra: Henrique Lopes de Mendonça

    Música: Alfredo Keil




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    O dia em que nasci moura e pereça,

    Não o queira jamais o tempo dar;

    Não torne mais ao mundo, e, se tornar,

    Eclipse nesse passo o sol padeça.


    A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça,

    Mostre o mundo sinais de se acabar;

    Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,

    A mãe ao próprio filho não conheça.


    As pessoas pasmadas, de ignorantes,

    As lágrimas no rosto, a cor perdida,

    Cuidem que o mundo já se destruiu.


    Ó gente temerosa, não te espantes,

    Que este dia deitou ao mundo a vida

    Mais desgraçada que jamais se viu.


    Luís de Camões


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  • Não Sou Casado, Senhora

    Não sou casado, senhora,

    que ainda não dei a mão,

    não casei o coração.


    Antes que vos conhecesse,

    sem errar contra vós nada,

    uma só mão fiz casada,

    sem que mais nisso metesse.

    Dou-lhe que ela se perdesse!

    solteiros e vossos são

    os olhos e o coração.


    Dizem que o bom casamento

    se há de fazer de vontade.

    Eu, a vós, a liberdade

    vos dei, e o pensamento.

    Nisto só me achei contento:

    que, se a outrem dei a mão,

    dei a vós o coração.


    Como, senhora, vos vi,

    sem palavras de presente

    na alma vos recebi,

    onde estareis para sempre,

    não de palavra somente;

    nem fiz mais que dar a mão,

    guardando-vos o coração.


    Casei-me com meu cuidado

    e com vosso desejar.

    Senhora, não sou casado,

    não mo queirais acuitar!

    que servir-vos e amar

    me nasceu do coração

    que tendes em vossa mão.


    O casar não fez mudança

    em meu antigo cuidado,

    nem me negou a esperança

    do galardão esperado.

    Não me engeiteis por casado,

    que, se a outra dei a mão,

    a vós dei o coração.


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    Bernardim Ribeiro, in 'Antologia Poética'

    (Escritor e Poeta Renascentista do Movimento Literário - Bucolismo)


    ===/\===



    ===/\===


    JÁ BOCAGE NÃO SOU!


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    Já Bocage não sou!... À cova escura

    Meu astro vai parar desfeito em vento...

    Eu aos céus ultrajei! O meu tormento

    Leve me torne sempre a terra dura.


    Conheço agora já quão vã figura

    Em prosa e verso fez meu louco intento.

    Musa... Tivera algum merecimento,

    Se um raio da razão seguisse pura!


    Eu me arrependo; a língua quase fria

    Brade em alto pregão à mocidade,

    Que atrás do som fantástico corria:


    Outro Aretino fui... A santidade

    Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,

    Rasga meus versos, crê na eternidade!


    Manuel Maria Barbosa du Bocage

    15 Set 1765 // 21 Dez 1805

    ===/\===


    Eu ...



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    Eu sou a que no mundo anda perdida,

    Eu sou a que na vida não tem norte,

    Sou a irmã do Sonho, e desta sorte

    Sou a crucificada ... a dolorida .

    ..

    Sombra de névoa tênue e esvaecida,

    E que o destino amargo, triste e forte,

    Impele brutalmente para a morte!

    Alma de luto sempre incompreendida!..

    .

    Sou aquela que passa e ninguém vê...

    Sou a que chamam triste sem o ser...

    Sou a que chora sem saber porquê...


    Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

    Alguém que veio ao mundo pra me ver,

    E que nunca na vida me encontrou!



    Florbela Espanca


    ===/\===


    CONTO DE FADAS


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    Eu trago-te nas mãos o esquecimento

    Das horas más que tens vivido, Amor!

    E para as tuas chagas o unguento

    Com que sarei a minha própria dor.


    Os meus gestos são ondas de Sorrento...

    Trago no nome as letras de uma flor...

    Foi dos meus olhos garços que um pintor

    Tirou a luz para pintar o vento...


    Dou-te o que tenho: o astro que dormita,

    O manto dos crepúsculos da tarde,

    O sol que é d'oiro, a onda que palpita.


    Dou-te comigo o mundo que Deus fez!

    - Eu sou Aquela de quem tens saudade,

    A Princesa do conto: “Era uma vez...”


    Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"



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  • ===/\===


    SÚPLICA



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    Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

    E que nele posso navegar sem rumo,

    Não respondas

    Às urgentes perguntas

    Que te fiz.

    Deixa-me ser feliz

    Assim,

    Já tão longe de ti como de mim.


    Perde-se a vida a desejá-la tanto.

    Só soubemos sofrer, enquanto

    O nosso amor

    Durou.

    Mas o tempo passou,

    Há calmaria…

    Não perturbes a paz que me foi dada.

    Ouvir de novo a tua voz seria

    Matar a sede com água salgada.


    MIGUEL TORGA



    ===/\===

    Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

    Muda-se o ser, muda-se a confiança:

    Todo o mundo é composto de mudança,

    Tomando sempre novas qualidades.


    Continuamente vemos novidades,

    Diferentes em tudo da esperança:

    Do mal ficam as mágoas na lembrança,

    E do bem (se algum houve) as saudades.


    O tempo cobre o chão de verde manto,

    Que já coberto foi de neve fria,

    E em mim converte em choro o doce canto.


    E afora este mudar-se cada dia,

    Outra mudança faz de mor espanto,

    Que não se muda já como soía.



    Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"



    Quando se cantam os nossos melhores poetas - José Mário Branco



    ===/\===


    O MOSTRENGO


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    O mostrengo que está no fim do mar

    Na noite de breu ergueu-se a voar;

    À roda da nau voou três vezes,

    Voou três vezes a chiar,


    E disse: «Quem é que ousou entrar

    Nas minhas cavernas que não desvendo,

    Meus tetos negros do fim do mundo?»


    E o homem do leme disse, tremendo:

    «El-Rei D. João Segundo!»


    «De quem são as velas onde me roço?

    De quem as quilhas que vejo e ouço?»

    Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

    Três vezes rodou imundo e grosso.


    «Quem vem poder o que só eu posso,

    Que moro onde nunca ninguém me visse

    E escorro os medos do mar sem fundo?»


    E o homem do leme tremeu, e disse:

    «El-Rei D. João Segundo!»


    Três vezes do leme as mãos ergueu,

    Três vezes ao leme as reprendeu,

    E disse no fim de tremer três vezes:

    «Aqui ao leme sou mais do que eu:


    Sou um povo que quer o mar que é teu;

    E mais que o mostrengo, que me a alma teme

    E roda nas trevas do fim do mundo,


    Manda a vontade, que me ata ao leme,

    De El-Rei D. João Segundo!»


    Fernando Pessoa. in Mensagem.

    Imagem da Internet


    ===/\===


    Angústia

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    Tortura do pensar! Triste lamento!

    Quem nos dera calar a tua voz!

    Quem nos dera cá dentro, muito a sós,

    Estrangular a hidra num momento!


    E não se quer pensar! ... e o pensamento

    Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...

    Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –

    O brilho duma estrela, com o vento! .

    ..

    E não se apaga, não ... nada se apaga!

    Vem sempre rastejando como a vaga ...

    Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”


    Ah! não ser mais que o vago, o infinito!

    Ser pedaço de gelo, ser granito,

    Ser rugido de tigre na floresta!



    Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"



    \\\X///


    Pensamentos


    O caminho que eu escolhi é o do amor. Não importam as dores, as angústias, nem as decepções que eu vou ter que encarar. Escolhi ser verdadeira. No meu caminho, o abraço é apertado, o aperto de mão é sincero, por isso não estranhe a minha maneira de sorrir, de te desejar o bem. É só assim que eu enxergo a vida, e é só assim que eu acredito que valha a pena viver.



    Paulo Roberto Gaefke

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  • Esta Velha Angústia

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    Esta velha angústia,

    Esta angústia que trago há séculos em mim,

    Transbordou da vasilha,

    Em lágrimas, em grandes imaginações,

    Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,

    Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.


    Transbordou.

    Mal sei como conduzir-me na vida

    Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!

    Se ao menos endoidecesse deveras!

    Mas não: é este estar entre,

    Este quase,

    Este poder ser que...,

    Isto.


    Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,

    Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.

    Estou doido a frio,

    Estou lúcido e louco,

    Estou alheio a tudo e igual a todos:

    Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura

    Porque não são sonhos.

    Estou assim...


    Pobre velha casa da minha infância perdida!

    Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!

    Que é do teu menino? Está maluco.

    Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?

    Está maluco.

    Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.


    Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!

    Por exemplo, por aquele manipanso

    Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.

    Era feiíssimo, era grotesco,

    Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.

    Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —

    Júpiter, Jeová, a Humanidade —

    Qualquer serviria,

    Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?


    Estala, coração de vidro pintado!


    Álvaro de Campos, in "Poemas"

    Heterónimo de Fernando Pessoa




    ///x\\\



    Pensamentos



    Eu admiro aqueles que conseguem sorrir com os problemas, reunir forças na angústia, e ganhar coragem na reflexão. É coisa de pequenas mentes encolher-se, mas aquele cujo coração é firme, e cuja consciência aprova sua conduta, perseguirá seus princípios até a morte.


    Thomas Paine


    ===/\===


    Se Tu Viesses Ver-me...

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    Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

    A essa hora dos mágicos cansaços,

    Quando a noite de manso se avizinha,

    E me prendesses toda nos teus braços...


    Quando me lembra: esse sabor que tinha

    A tua boca... o eco dos teus passos...

    O teu riso de fonte... os teus abraços...

    Os teus beijos... a tua mão na minha...


    Se tu viesses quando, linda e louca,

    Traça as linhas dulcíssimas dum beijo

    E é de seda vermelha e canta e ri


    E é como um cravo ao sol a minha boca...

    Quando os olhos se me cerram de desejo...

    E os meus braços se estendem para ti...


    Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


    ===/\===


    Os versos que te fiz


    Deixa dizer-te os lindos versos raros

    Que a minha boca tem para te dizer!

    São talhados em mármore de Paros

    Cinzelados por mim para te oferecer


    Têm dolência de veludos caros,

    São como sedas pálidas a arder...

    Deixa dizer-te os lindos versos raros

    Que foram feitos pra te endoidecer!


    Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda.

    Que a boca da mulher é sempre linda

    Se dentro guarda um verso que não diz


    Amo-te tanto! E nunca te beijei...

    E nesse beijo, Amor, que eu não dei

    Guardo os versos mais lindos que te fiz!





    Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"



    ///X\\\



    Musica e arranjos de Manuel Aleixo

    Imagens- Manuel Aleixo



    ===/\===


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  • REGRESSO


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    Quando eu voltar,

    que se alongue sobre o mar,

    o meu canto ao Creador!

    Porque me deu, vida e amor,

    para voltar...


    Voltar...

    Ver de novo baloiçar

    a fronde magestosa das palmeiras

    que as derradeiras horas do dia,

    circundam de magia...


    Regressar...

    Poder de novo respirar,

    (oh!...minha terra!...)

    aquele odor escaldante

    que o humus vivificante

    do teu solo encerra!


    Embriagar

    uma vez mais o olhar,

    numa alegria selvagem,

    com o tom da tua paisagem,

    que o sol,

    a dardejar calor,

    transforma num inferno de cor...


    Não mais o pregão das varinas,

    nem o ar monotono, igual,

    do casario plano...

    Hei-de ver outra vez as casuarinas

    a debruar o oceano...


    Não mais o agitar fremente

    de uma cidade em convulsão...

    não mais esta visão,

    nem o crepitar mordente

    destes ruidos...


    Os meus sentidos

    anseiam pela paz das noites tropicais

    em que o ar parece mudo,

    e o silêncio envolve tudo


    Sede...Tenho sede dos crepusculos africanos,

    todos os dias iguais, e sempre belos,

    de tons quasi irreais...

    Saudade...Tenho saudade

    do horizonte sem barreiras...,

    das calemas traiçõeiras,

    das cheias alucinadas...


    Saudade das batucadas

    que eu nunca via

    mas pressentia

    em cada hora,

    soando pelos longes, noites fora!...


    Sim! Eu hei-de voltar,

    tenho de voltar,

    não há nada que mo impeça.

    Com que prazer

    hei-de esquecer

    toda esta luta insana...

    que em frente está a terra angolana,

    a prometer o mundo

    a quem regressa...


    Ah! quando eu voltar...

    Hão-de as acacias rubras,

    a sangrar

    numa verbena sem fim,

    florir só para mim!...

    E o sol esplendoroso e quente,

    o sol ardente,

    há-de gritar na apoteose do poente,

    o meu prazer sem lei...

    A minha alegria enorme de poder

    enfim dizer:

    Voltei!...



    Alda Lara

    Nasceu a 09 Junho 1930

    (Benguela, Angola)

    Morreu em 30 Janeiro 1962

    (Cambambe, Angola)


    ===/1===


    Soneto do amigo



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    Enfim, depois de tanto erro passado

    Tantas retaliações, tanto perigo

    Eis que ressurge noutro o velho amigo

    Nunca perdido, sempre reencontrado.


    É bom sentá-lo novamente ao lado

    Com olhos que contêm o olhar antigo

    Sempre comigo um pouco atribulado

    E como sempre singular comigo.


    Um bicho igual a mim, simples e humano

    Sabendo se mover e comover

    E a disfarçar com o meu próprio engano.


    O amigo: um ser que a vida não explica

    Que só se vai ao ver outro nascer

    E o espelho de minha alma multiplica...


    Vinícius de Moraes


    ===/\===


    O Palácio da Ventura

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    Sonho que sou um cavaleiro andante.

    Por desertos, por sóis, por noite escura,

    Paladino do amor, busco anelante

    O palácio encantado da Ventura!


    Mas já desmaio, exausto e vacilante,

    Quebrada a espada já, rota a armadura...

    E eis que súbito o avisto, fulgurante

    Na sua pompa e aérea formosura!


    Com grandes golpes bato à porta e brado:

    Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...

    Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!


    Abrem-se as portas d'ouro com fragor...

    Mas dentro encontro só, cheio de dor,

    Silêncio e escuridão - e nada mais!


    Antero de Quental, in "Sonetos"


    ===/\===


    Canção na plenitude



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    (Autor desconhecido)


    Não tenho mais os olhos de menina

    nem corpo adolescente, e a pele

    translúcida há muito se manchou.

    Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura

    agrandada pelos anos e o peso dos fardos

    bons ou ruins.

    (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)


    O que te posso dar é mais que tudo

    o que perdi: dou-te os meus ganhos.

    A maturidade que consegue rir

    quando em outros tempos choraria,

    busca te agradar

    quando antigamente quereria

    apenas ser amada.

    Posso dar-te muito mais do que beleza

    e juventude agora: esses dourados anos

    me ensinaram a amar melhor, com mais paciência

    e não menos ardor, a entender-te

    se precisas, a aguardar-te quando vais,

    a dar-te regaço de amante e colo de amiga,

    e sobretudo força — que vem do aprendizado.

    Isso posso te dar: um mar antigo e confiável

    cujas marés — mesmo se fogem — retornam,

    cujas correntes ocultas não levam destroços

    mas o sonho interminável das sereias.


    Lya Luft - in "Secreta Mirada.


    JI7Lx0X.png

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  • Sete anos de pastor

    Sete anos de pastor Jacob servia

    Labão, pai de Raquel, serrana bela;

    mas não servia o pai, servia a ela,

    e a ela só por prémio pretendia.


    Os dias, na esperança de um só dia,

    passava, contentando-se com vê-la;

    porém o pai, usando de cautela,

    em lugar de Raquel lhe dava Lia.


    Vendo o triste pastor que com enganos

    lhe fora assi negada a sua pastora,

    como se não a tivera merecida,


    Começa de servir outros sete anos,

    dizendo: Mais servira, se não fora

    pera tão longo amor tão curta a vida!

    (Luís de Camões)


    O poeta maior, cantado pela estrela maior - Amália Rodrigues




    ===/\===


    És dos Céus o Composto Mais Brilhante

    Marília, nos teus olhos buliçosos

    Os Amores gentis seu facho acendem;

    A teus lábios, voando, os ares fendem

    Terníssimos desejos sequiosos.


    Teus cabelos subtis e luminosos

    Mil vistas cegam, mil vontades prendem;

    E em arte aos de Minerva se não rendem

    Teus alvos, curtos dedos melindrosos.


    Reside em teus costumes a candura,

    Mora a firmeza no teu peito amante,

    A razão com teus risos se mistura.


    És dos Céus o composto mais brilhante;

    Deram-se as mãos Virtude e Formosura,

    Para criar tua alma e teu semblante.



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    Estátua de Bocage em Setúbal (onde nasceu)



    Manuel Maria Barbosa du Bocage



    ===/\===



    Carta a Sophia, ou O quinto poema do português errante



    Querida Sophia: como os índios do seu poema

    também eu procurei o país sem mal.

    Em dez anos de exílio o imaginei

    como os índios utópicos também eu queria

    um outro Portugal em Portugal.

    Mas quando regressei eu não o vi

    como eles me perdi e nunca achei

    o país sem mal.


    66RUUXh.png


    Talvez a própria vida seja isto

    passar montanha e mar sem se dar conta

    de que o único sentido é procurar.

    Como os índios do seu poema eu não desisto

    sou um português errante a caminhar

    em busca do país que não se encontra.



    Manuel Alegre

    Imagem da Internet (2009 Derradé)


    ===/\===


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  • 20 de Outubro - Dia do Poeta

    Há séculos as pessoas se emocionam, riem e choram com essas belas produção artísticas, consideradas como uma das Sete Artes Tradicionais.


    Ser Poeta



    Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

    Do que os homens! Morder como quem beija!

    É ser mendigo e dar como quem seja

    Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!


    É ter de mil desejos o esplendor

    E não saber sequer que se deseja!

    É ter cá dentro um astro que flameja,

    É ter garras e asas de condor!


    É ter fome, é ter sede de Infinito!

    Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

    É condensar o mundo num só grito!


    E é amar-te, assim, perdidamente...

    É seres alma, e sangue, e vida em mim

    E dizê-lo cantando a toda a gente!



    Florbela Espanca



    \\\x///



    Cantado por Luís Represas



    ===/\===


    Ouvir estrelas


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    "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,

    Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

    Que, para ouvi-las, muita vez desperto

    E abro as janelas, pálido de espanto...


    E conversamos toda a noite,

    enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,

    Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

    Inda as procuro pelo céu deserto.


    Direis agora: "Tresloucado amigo!

    Que conversas com elas? Que sentido

    Tem o que dizem, quando estão contigo?"


    E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

    Pois só quem ama pode ter ouvido

    Capaz de ouvir e e de entender estrelas".



    Olavo Bilac in: coleção de sonetos Via Láctea

    (Imagem da Internet - o Braço de Orion, espiral menor da Via Láctea, estendendo-se em uma faixa imensa por todo o céu.)


    ===/\===


    Nosso mundo hoje



    O mundo está perdido!

    Tantas mortes e destruição.

    Tantos estragos e poluição.

    Tanta gente de fome morrendo.

    Tantos animais extinguindo-se e desaparecendo.


    Tanta gente rica que não reparte com ninguém.

    Tantos problemas que os governos têm.

    Tantas guerras arrasando nações.

    Tantos acidentes, tantas explosões.

    Tantas pessoas analfabetas, tantas sem onde morar.

    Tantos adoecendo, sem remédio para se tratar.


    O ser humano perdeu a razão.

    Se afogou na própria ambição.



    Clarice Pacheco

    ///\\\



    Pensamento


    Admiro a terra, quero-a, sempre gostei dela. Sempre me senti feliz por estar vivo: apesar da guerra, das más notícias, não sou capaz de matar em mim a simples alegria de viver.

    Julien Green


    ===/\===


    Ter Um Pai



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    Ter um Pai! É ter na vida

    Uma luz por entre escolhos;

    É ter dois olhos no mundo

    Que vêem plos nossos olhos!


    Ter um Pai! Um coração

    Que apenas amor encerra,

    É ver Deus, no mundo vil,

    É ter os céus cá na terra!


    Ter um Pai! Nunca se perde

    Aquela santa afeição,

    Sempre a mesma, quer o filho

    Seja um santo ou um ladrão;


    Talvez maior, sendo infame

    O filho que é desprezado

    Pelo mundo; pois um Pai

    Perdoa ao mais desgraçado!


    Ter um Pai! Um santo orgulho

    Prò coração que lhe quer

    Um orgulho que não cabe

    Num coração de mulher!


    Embora ele seja imenso

    Vogando pelo ideal,

    O coração que me deste

    Ó Pai bondoso é leal!


    Ter um Pai! Doce poema

    Dum sonho bendito e santo

    Nestas letras pequeninas,

    Astros dum céu todo encanto!


    Ter um Pai! Os órfãozinhos

    Não conhecem este amor!

    Por mo fazer conhecer,

    Bendito seja o Senhor!


    Florbela Espanca in: Poesia

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  • MULHER


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    A mulher não é só casa

    mulher-loiça, mulher-cama

    ela é também mulher-asa,

    mulher-força, mulher-chama


    E é preciso dizer

    dessa antiga condição

    a mulher soube trazer

    a cabeça e o coração


    Trouxe a fábrica ao seu lar

    e ordenado à cozinha

    e impôs a trabalhar

    a razão que sempre tinha


    Trabalho não só de parto

    mas também de construção

    para um filho crescer farto

    para um filho crescer são


    A posse vai-se acabar

    no tempo da liberdade

    o que importa é saber estar

    juntos em pé de igualdade


    Desde que as coisas se tornem

    naquilo que a gente quer

    é igual dizer meu homem

    ou dizer minha mulher



    José Carlos Ary dos Santos


    ===/\===

    Lisboa Menina e Moça


    No Castelo, ponho um cotovelo

    Em Alfama, descanso o olhar

    E assim desfaço o novelo

    De azul e mar


    À Ribeira encosto a cabeça

    A almofada, da cama do Tejo

    Com lençóis bordados à pressa

    Na cambraia de um beijo


    Lisboa menina e moça, menina

    Da luz que meus olhos vêem tão pura

    Teus seios são as colinas, varina

    Pregão que me traz à porta, ternura


    Cidade a ponto luz bordada

    Toalha à beira mar estendida

    Lisboa menina e moça, amada

    Cidade mulher da minha vida


    No Terreiro eu passo por ti

    Mas da Graça eu vejo-te nua

    Quando um pombo te olha, sorri

    És mulher da rua


    E no bairro mais alto do sonho

    Ponho o fado que soube inventar

    Aguardente de vida e medronho

    Que me faz cantar


    Lisboa menina e moça, menina

    Da luz que os meus olhos vêem tão pura

    Teus seios são as colinas, varina

    Pregão que me traz à porta, ternura


    Cidade a ponto luz bordada

    Toalha à beira mar estendida

    Lisboa menina e moça, amada

    Cidade mulher da minha vida


    Lisboa no meu amor, deitada

    Cidade por minhas mãos despida

    Lisboa menina e moça, amada

    Cidade mulher da minha vida


    Ary dos Santos


    ///\\\


    Este poema foi musicado por Paulo de Carvalho e faz parte do reportório de Carlos do Carmo.



    ===/\===


    Heautontimoroumenos


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    Sem cólera te espancarei,

    Como o açougueiro abate a rês,

    Como Moisés à rocha fez!

    De tuas pálpebras farei,


    Para o meu Saara inundar,

    Correr as águas do tormento

    O meu desejo ébrio de alento

    Sobre o teu pranto irá flutuar


    Como um navio no mar alto,

    E nem meu saciado coração

    Os teus soluços ressoarão

    Como um tambor que toca o assalto!


    Não sou acaso um falso acorde

    Nessa divina sinfonia,

    Graças à voraz Ironia

    Que me sacode e que me morde?


    Em minha voz ela é quem grita!

    E anda em meu sangue envenenado!

    Eu sou o espelho amaldiçoado

    Onde a megera se olha aflita.


    Eu sou a faca e o talho atroz!

    Eu sou o rosto e a bofetada!

    Eu sou a roda e a mão crispada,

    Eu sou a vítima e o algoz!


    Sou um vampiro a me esvair

    – Um desses tais abandonados

    Ao risco eterno condenados,

    E que não podem mais sorrir!



    Charles Baudelaire



    ===/\===


    A mão que esconde mais do que oferece


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    A mão que esconde mais do que oferece,

    os olhos de presa dominando o caçador.

    E os teus lábios que murmuram a prece

    de quem só reza no instante do amor.


    E se falasse dos teus olhos, dos teus braços

    desse corpo em que me perco e te ganho,

    não mais acabaria o que tem de acabar;


    uma respiração de suspiros e de abraços

    neste canto em que és tudo o que eu tenho,

    nesta viagem em que não tem fundo o mar.

    Nuno Júdice


    ===/\===


    RECOMECE


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    Quando a vida bater forte

    e sua alma sangrar,

    quando esse mundo pesado

    lhe ferir, lhe esmagar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a LUTAR.


    Quando tudo for escuro

    e nada iluminar,

    quando tudo for incerto

    e você só duvidar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a ACREDITAR.


    Quando a estrada for longa

    e seu corpo fraquejar,

    quando não houver caminho

    nem um lugar pra chegar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a CAMINHAR.


    Quando o mal for evidente

    e o amor se ocultar,

    quando o peito for vazio,

    quando o abraço faltar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a AMAR.


    Quando você cair

    e ninguém lhe aparar,

    quando a força do que é ruim

    conseguir lhe derrubar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a LEVANTAR.


    Quando a falta de esperança

    decidir lhe açoitar,

    se tudo que for real

    for difícil suportar...

    É hora do recomeço.

    Recomece a SONHAR.


    Enfim...


    É preciso de um final

    pra poder recomeçar,

    como é preciso cair

    pra poder se levantar.

    Nem sempre engatar a ré

    significa ca voltar.


    Remarque aquele encontro,

    reconquiste um amor,

    reúna quem lhe quer bem,

    reconforte um sofredor,

    reanime quem tá triste

    e reaprenda na dor.


    Recomece, se refaça,

    relembre o que foi bom,

    reconstrua cada sonho,

    redescubra algum dom,

    reaprenda quando errar,

    rebole quando dançar,

    e se um dia, lá na frente,

    a vida der uma ré,

    recupere sua fé

    e RECOMECE novamente.


    Bráulio Bessa


    ===/\===


    Torre de névoa



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    Subi ao alto, à minha torre esguia,
    Feita de fumo, névoas e luar,
    E pus-me, comovida, a conversar
    Com os poetas mortos, todo o dia.



    Contei-lhes os meus sonhos, a alegria

    Dos versos que são meus, do meu sonhar,

    E todos os poetas, a chorar,

    Responderam-me então: - (Que fantasia,


    Criança doida e crente! Nós também

    Tivemos ilusões, como ninguém,

    E tudo nos fugiu, tudo morreu!... )


    Calaram-se os poetas, tristemente...

    E é desde então que eu choro amargamente

    Na minha Torre esguia junto ao céu !...


    Florbela Espanca



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  • Quando um Homem quiser


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    Tu que dormes à noite na calçada do relento

    numa cama de chuva com lençóis feitos de vento

    tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento

    és meu irmão, amigo, és meu irmão


    E tu que dormes só o pesadelo do ciúme

    numa cama de raiva com lençóis feitos de lume

    e sofres o Natal da solidão sem um queixume

    és meu irmão, amigo, és meu irmão


    Natal é em Dezembro

    mas em Maio pode ser

    Natal é em Setembro

    é quando um homem quiser


    Natal é quando nasce

    uma vida a amanhecer

    Natal é sempre o fruto

    que há no ventre da mulher


    KGORSeV.png


    Tu que inventas ternura e brinquedos para dar

    tu que inventas bonecas e comboios de luar

    e mentes ao teu filho por não os poderes comprar

    és meu irmão, amigo, és meu irmão


    E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei

    fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

    pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei

    és meu irmão, amigo, és meu irmão



    Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'


    ===/\===



    Todo dia é ano novo.


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    Todo dia é ano novo

    Entre a lua e as estrelas

    num sorriso de criança

    no canto dos passarinhos

    num olhar, numa esperança...


    Todo dia é ano novo

    na harmonia das cores

    na natureza esquecida

    na fresca aragem da brisa

    na própria essência da vida.


    Todo dia é ano novo

    no regato cristalino

    pequeno servo do mar

    nas ondas lavando as praias

    na clara luz do luar...


    Todo dia é ano novo

    na escuridão do infinito

    todo ponteado de estrelas

    na amplidão do universo

    no simples prazer de vê-las

    nos segredos desta vida

    no germinar da semente.

    Todo dia é ano novo

    nos movimentos da Terra

    que gira incessantemente.


    Todo dia é ano novo

    no orvalho sobre a relva

    na passarela que encanta

    no cheiro que vem da terra

    e no sol que se levanta.


    Todo dia é ano novo

    nas flores que desabrocham

    perfumando a atmosfera

    nas folhas novas que brotam

    anunciando a primavera.


    Você é capaz, é paz

    É esperança

    Todo dia é ano novo

    no colorido mais belo

    dos olhos dos filhos seus...

    Você é paz, é amor, a alegria de Deus.


    Não há vida sem volta

    e não há volta sem vida

    no ciclo da natureza

    neste ir e vir constante

    No broto que se renova

    na vida que segue adiante

    em quem semeia bondade

    em quem ajuda o irmão

    colhendo felicidade

    cumprindo a sua missão.

    Todo dia é ano novo... portanto... feliz ano novo todo dia!


    Autor desconhecido


    ===/\===



    A estrela



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    Eu caminhei na noite

    E entre o silêncio e frio

    Só uma estrela secreta me guiava.


    Grandes perigos na noite me apareceram:
    Da minha estrela julguei que eu a julgara
    Verdadeira sendo ela só reflexo
    Duma cidade a néon enfeitada.


    A minha solidão me pareceu coroa.
    Sinal de perfeição em minha fronte.
    Mas vi quando no vento me humilhava
    Que a coroa que eu levava era dum ferro
    Tão pesado, que toda me dobrava.


    Do frio das montanhas eu pensei:
    “Minha pureza me cerca e me rodeia”.
    Porém meu pensamento apodreceu
    E a pureza as coisas cintilava
    E eu vi que a limpidez não era eu.


    E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
    Em monstruosa voz se transformaram:
    Pedi ás pedras do monte que falassem
    Mas elas como pedras se calaram.
    Sozinha me vi, delirante e perdida.


    E eu caminhei na noite; minha sombra
    De gestos desmedidos me cercava
    Silêncio e medo
    Nos confins dos desertos caminhavam:
    Então vi chegar ao meu encontro
    Aqueles que uma estrela iluminava
    E assim me disseram: “Vem connosco
    Se também vens seguindo aquela estrela”.

    Então soube que a estrela me seguia.


    Era real e não imaginada.
    Grandes e humanas miragens nos mostraram
    Em direcções distantes nos chamaram
    E a sombra dos três homens sobre a terra
    Ao lado dos meus passos caminhava.
    E eu espantada vi que aquela estrela
    Para cidade dos homens nos guiava.

    E a estrela do céu parou em cima
    duma rua sem cor e sem beleza
    Onde a luz tinha o mesmo tom que a cinza
    Longe do verde-azul da Natureza.


    Ali não vi as coisas que eu amava
    Nem o brilho do sol nem o da água.
    Ao lado do hospital e da prisão
    Entre o agiota e o templo profanado
    Onde a rua é mais negra e mais sem luz
    E onde tudo parece abandonado
    Um lugar pela estrela foi marcado.

    Nesse lugar pensei: Quando deserto

    Atravessei para encontrar aquilo
    Que morava entre os homens tão perto.


    Sophia de Mello Breyner Andresen



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  • JANEIRAS


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    Vamos cantar as janeiras

    Vamos cantar as janeiras

    Por esses quintais adentro vamos

    Às raparigas solteiras


    Vamos cantar orvalhadas

    Vamos cantar orvalhadas

    Por esses quintais adentro vamos

    Às raparigas casadas


    Vira o vento e muda a sorte

    Vira o vento e muda a sorte

    Por aqueles olivais perdidos

    Foi-se embora o vento norte


    Muita neve cai na serra

    Muita neve cai na serra

    Só se lembra dos caminhos velhos

    Quem tem saudades da terra


    Quem tem a candeia acesa

    Quem tem a candeia acesa

    Rabanadas pão e vinho novo

    Matava a fome à pobreza


    Já nos cansa esta lonjura

    Já nos cansa esta lonjura

    Só se lembra dos caminhos velhos

    Quem anda à noite à ventura


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    Zeca Afonso


    ===/\===


    VERDES SÃO OS CAMPOS


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    Verdes são os campos,

    De cor de limão:

    Assim são os olhos

    Do meu coração.


    Campo, que te estendes

    Com verdura bela;

    Ovelhas, que nela

    Vosso pasto tendes,

    De ervas vos mantendes

    Que traz o Verão,

    E eu das lembranças

    Do meu coração.


    Gado que pasceis

    Com contentamento,

    Vosso mantimento

    Não no entendereis,

    Isso que comeis

    Não são ervas, não:

    São graças dos olhos

    Do meu coração.


    Luís de Camões


    ===/\===



    Na corrente



    Vês aquela intrépida cascata?

    Assim intrépido é por ti o meu amor.

    Não duvides nunca se porventura não se ata,
    Pois estarei sempre com o mesmo fulgor!



    O universo esta ordem me acata

    E mantém-me vivo e arrebatador

    Este amor que não desata

    E brilha só pelo teu esplendor!


    Assim como não perde água a cachoeira,

    Não importa o tempo que se passe,

    Mantê-la-ei activa de sobremaneira


    Esta paixão que não terá desenlace.

    Agora que sabes que o meu amor não desiste,

    Diz-me, e aquela cascata, viste?

    Ricardo Matos, 16/11/2018


    ===/\===



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    A Nebulosa da Cascata

    No Complexo de Nuvens Moleculares da NGC 1999, a 1.500 anos-luz de distância, pode ser encontrado um dos fenómenos mais bizarros já vistos no Universo. Conhecida por sua designação Herbig-Haro 222 (HH-222), a Nebulosa da Cascata é impressionante na sua forma e confundiu os astrónomos em todo o mundo. O 'fluxo' que se estende para baixo nesta imagem tem cerca de 10 anos-luz de comprimento.



    ===/\===


    Recordação


    E tu esperas, aguardas a única coisa

    que aumentaria infinitamente a tua vida;

    o poderoso, o extraordinário,

    o despertar das pedras,

    os abismos com que te deparas.


    Nas estantes brilham

    os volumes em castanho e ouro;

    e tu pensas em países viajados,

    em quadros, nas vestes

    de mulheres encontradas e já perdidas.


    E então de súbito sabes: era isso.

    Ergues-te e diante de ti estão

    angústia e forma e oração

    de certo ano que passou.

    Rainer Maria Rilke



    =\\//\\//=


    Derradeira recordação do fórum antigo:


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    We are nothing but the ashes of Stars, long since blotted out in Time

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  • Poema ABRAÇO


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    Sim: letra e nuvem

    lutam com os sonhos

    Pela posse do poema.

    O sino da tempestade
    Convida a criação às núpcias,
    O véu da ternura desce
    Sobre a carne inconformada.

    A página aberta do livro
    Mostra a inicial de Altair.
    Responde o clarim augusto:

    ─ Vestida de água e céu
    Voas acima do tempo.
    No espelho do futuro
    Te assisto refletida.
    Serás tu mesma? Ou sou eu.


    Murilo Mendes in: As Metamorfoses


    \\\x///


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    ===/\===


    De Tarde



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    Naquele “pic-nic” de burguesas,

    Houve uma coisa simplesmente bela,

    E que, sem ter história nem grandezas,

    Em todo o caso dava uma aguarela.


    Foi quando tu, descendo do burrico,

    Foste colher, sem imposturas tolas,

    A um granzoal azul de grão de bico

    Um ramalhete rubro de papoulas.


    Pouco depois, em cima duns penhascos,

    Nós acampámos, inda o sol se via;

    E houve talhadas de melão, damascos

    E pão de ló molhado em malvasia.


    Mas, todo púrpuro, a sair da renda

    Dos teus dois seios como duas rolas,

    Era o supremo encanto da merenda

    O ramalhete rubro das papoulas!


    Cesário Verde

    (Cesário Verde introduz em Portugal, o Impressionismo relacionado com a literatura)


    Quadro de: Édouard Manet (Le Déjeuner sur L'herbe, 1863 – óleo sobre tela – Museu d´Orsay, Paris)


    ===/\===


    DO AMOROSO ESQUECIMENTO


    Eu, agora - que desfecho!

    Já nem penso mais em ti...

    Mas será que nunca deixo

    De lembrar que te esqueci?


    Mário Quintana

    xxx\/xxx

    Guarda estes versos que escrevi...


    Guarda estes versos que escrevi chorando,

    Como um alívio à minha saudade,

    Como um dever do meu amor; e quando

    Houver em ti um eco de saudade,

    Beija estes versos que escrevi chorando.


    Machado de Assis in: Crisálidas


    xxx/\xxx



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    Imagem da Internet


    ===/\===



    PORQUE TU EXISTES



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    Uma criança

    Acaba de nascer,

    Porque tu existes
    MULHER!


    Eu vejo

    Todos os dias

    O sol aparecer,

    Porque tu existes

    MULHER!


    Uma criança,

    Abre os olhos

    E sorri

    Ao nascer,

    Ao olhar

    Para ti

    MULHER!


    O Homem,

    Admira a Natureza,

    Enxergando

    Tanta beleza

    E tudo o mais

    Que pode ver,

    Porque de ti nasceu

    MULHER!


    O Mundo

    Se formou

    E a terra

    Incompleta,

    Acabada de aparecer,

    Contigo se completou

    MULHER!


    Não há milagre

    Mais delicado,

    Que o ato de viver,

    Nem momento

    Mais belo,

    Que o ser por ti gerado,

    Que para o pode ser,

    Só se o for por ti

    MULHER!


    João Alberto Bentes



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    ===/\===


    Solitário


    Como um fantasma que se refugia

    Na solidão da natureza morta,

    Por trás dos ermos túmulos, um dia,

    Eu fui refugiar-me à tua porta!


    Fazia frio e o frio que fazia

    Não era esse que a carne nos contorta...

    Cortava assim como em carniçaria

    O aço das facas incisivas corta!


    Mas tu não vieste ver minha Desgraça!

    E eu saí, como quem tudo repele,

    - Velho caixão a carregar destroços 


    -Levando apenas na tumba carcaça

    O pergaminho singular da pele

    E o chocalho fatídico dos ossos!


    Augusto dos Anjos in: Eu e outras poesias

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    Solidão


    Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou amar... Isto é carência!

    Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade!

    Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!

    Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... Isto é um princípio da natureza!

    Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto e circunstância!

    Solidão é muito mais do que isto...

    SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.


    Fátima Irene Pinto


    in: Eu e outras poesias

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  • ===/\===


    Mãe!!!


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    Só uma vez nascerá teu filho,

    Após 9 meses…o parto e a dor,

    Ficarás com os olhos cheios de brilho,
    Fruto de um sonho e de um ato de amor!

    Só uma vez teu filho terá dois anos,
    E o teu colo será a sua praia,
    Filho único ou com manos,
    Ele amará… andar ao redor de tua saia.

    Só uma vez ele terá 4 anos,
    E desejo ardente de brincar contigo,
    Inúmeras quedas, inúmeros estragos,
    E outras tantas vezes de castigo.

    Só uma vez… ele 6 anos terá,
    E tu prometes-lhe uma boneca ou uma bola,
    Seu corpo assustado, logo pela manhã,
    Primeiro dia de escola.

    Só uma vez ele será adolescente,
    Primeiro namoro, primeira briga,
    Viverá uma mistura de triste e contente,
    E nem sempre te verá como amiga.

    Pela primeira vez será adulto,
    O trabalho será o seu novo processo,
    E tu, tipo ritual ou qualquer culto,
    Rezas para que ele tenha o maior sucesso.

    Só uma vez, assim se deseja,
    Ele faça suas malas, abandone o seu ninho,
    Para que de braço dado contigo na igreja,
    Rume aos braços de outro amor, pra trilhar novo caminho.

    Pela primeira vez terá um filho,
    E tu, alegremente, serás avó,
    E apesar do novo trilho,
    Tu nunca o deixarás só.

    Pela primeira vez serás mãe a dobrar,
    Juntarás no teu coração… o amor de todos os corações,
    E com tanto amor para dar,
    Terás também o dobro das preocupações.

    E um dia quando fores velhinha…recordarás…
    Tudo o que te fez sorrir…sem qualquer preconceito,
    Acenderás uma velinha…e dirás,
    Posso partir… o meu “trabalho” está feito!

    Ser mãe é:
    Ser capaz de doar a própria vida.
    Tirar seu agasalho para seu filho cobrir,
    Por vezes chorar escondida,
    Pois o importante... é ver seu filho sorrir.



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    José Carlos SC


    ===/\===


    Para todos os Ikarianos que têm a grande ventura de ser papás,

    desejo as maiores venturas, neste dia de S. José, dedicado aos pais


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    ===/\===


    Segredo


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    Sei um ninho.

    E o ninho tem um ovo.

    E o ovo, redondinho,

    Tem lá dentro um passarinho

    Novo.


    Mas escusam de me atentar:

    Nem o tiro, nem o ensino.

    Quero ser um bom menino

    E guardar

    Este segredo comigo.

    E ter depois um amigo

    Que faça o pino

    A voar...


    Miguel Torga in: Diário VIII


    ===/\===



    Poema inédito de Manuel Alegre

    Nasceu a 12 de Maio de 1936

    Manuel Alegre assinala o Dia Mundial da Poesia com poema inédito sobre a Lisboa que, perante a pandemia, “em cada rua deserta/ ainda resiste”


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    ===/\===


    MINHAS QUADRAS DA QUARENTENA



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    Estou pr’aqui de quarentena

    Preciso desabafar

    E furar o sistema

    Sem contudo desrespeitar


    Há dias que a rotina

    É tão certinha e solitária

    Uma caminhada pequenina

    E muitas horas à secretária


    O maldito do corona

    Está trocando isto tudo

    Anda tudo numa fona

    Desprotegido e desnudo


    Sirenes pr’aqui e pr’ali

    Silêncio e muito vazio

    Fui à farmácia e pouca vi

    A normal gente em rodopio


    Está sendo complicado

    Ouvir órgãos sociais

    Descrever o terrível estado

    Do vírus cada vez mais


    Sinto no silêncio de agora

    O que antes não ouvi

    Com tantos casos hora a hora

    Como noutros casos não vi


    Vou pedindo sinceramente

    Que o futuro vá deixando

    Que cada elemento doente

    Consiga ir melhorando


    Famílias separadas

    Filhos pais avós e netos

    Com tantas horas passadas

    Sem carinhos e sem afectos


    Trabalho feito em casa

    Horas e horas de solidão

    Numa ansiedade que arrasa

    O mais robusto cidadão


    É tempo de pedir

    Ao tempo outro tempo

    E esperar conseguir

    Eliminar o sofrimento


    João Alberto Bentes, 31/03/2020


    ===/\===


    Primavera


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    Primavera gentil dos meus amores,

    - Arca cerúlea de ilusões etéreas,

    Chova-te o Céu cintilações sidéreas

    E a terra chova no teu seio flores!


    Esplende, Primavera, os teus fulgores,

    Na auréola azul, dos dias teus risonhos,

    Tu que sorveste o fel das minhas dores

    E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!


    Cedo virá, porém, o triste outono,

    Os dias voltarão a ser tristonhos

    E tu hás de dormir o eterno sono,


    Num sepulcro de rosas e de flores,

    Arca sagrada de cerúleos sonhos,

    Primavera gentil dos meus amores!


    Augusto dos Anjos

    Nasceu em 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d'Arco, na Paraíba. Ele foi um famoso poeta brasileiro do pré-modernismo, com algumas raízes do simbolismo.

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  • CRUCIFIXO


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    «Minha mãe, quem é Aquele

    Pregado naquela cruz?

    - Aquele, filho, é Jesus...

    É a santa imagem dele!


    «E quem é Jesus? – É Deus!

    «E quem é Deus? – Quem nos cria,

    Quem nos manda a luz do dia

    E fez a terra e os céus;


    E veio ensinar à gente

    Que todos somos irmãos,

    E devemos dar as mãos

    Uns aos outros irmãmente:


    Todo amor, todo bondade!

    «E morreu? – Para mostrar

    Que a gente pela Verdade

    Se deve deixar matar.


    João de Deus, (1830-1896)



    ===/\===


    Eu e Ela


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    Cobertos de folhagem, na verdura,

    O teu braço ao redor do meu pescoço,

    O teu fato sem ter um só destroço,

    O meu braço apertando-te a cintura;


    Num mimoso jardim, ó pomba mansa,

    Sobre um banco de mármore assentados.

    Na sombra dos arbustos, que abraçados,

    Beijarão meigamente a tua trança.


    Nós havemos de estar ambos unidos,

    Sem gozos sensuais, sem más ideas,

    Esquecendo para sempre as nossas ceias,

    E a loucura dos vinhos atrevidos.


    Nós teremos então sobre os joelhos

    Um livro que nos diga muitas cousas

    Dos mistérios que estão para além das lousas,

    Onde havemos de entrar antes de velhos.


    Outras vezes buscando distração,

    Leremos bons romances galhofeiros,

    Gozaremos assim dias inteiro,

    Formando unicamente um coração.


    Beatos ou pagãos, vida à paxá,

    Nós leremos, aceita este meu voto,

    O Flos-Sanctorum místico e devoto

    E o laxo Cavaleiro de Faublas...


    Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'


    ===/\===


    Amor e Amizade


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    Perguntei a um sábio,

    a diferença que havia

    entre amor e amizade,

    ele me disse essa verdade...


    O Amor é mais sensível,
    a Amizade mais segura.
    O Amor nos dá asas,
    a Amizade o chão.

    No Amor há mais carinho,
    na Amizade compreensão.
    O Amor é plantado
    e com carinho cultivado,

    a Amizade vem faceira,
    e com troca de alegria e tristeza,
    torna-se uma grande e querida
    companheira.

    Mas quando o Amor é sincero
    ele vem com um grande amigo,
    e quando a Amizade é concreta,
    ela é cheia de amor e carinho.

    Quando se tem um amigo
    ou uma grande paixão,
    ambos sentimentos coexistem
    dentro do seu coração.


    Veronica Shoffstall



    ===/\===


    A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos ou Revolução de Abril, refere-se a um evento da história de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido a 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático e com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista.



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    Poema que serviu de tema à revolução de Abril


    Grândola Vila Morena


    Grândola, vila morena

    Terra da fraternidade

    O povo é quem mais ordena

    Dentro de ti, ó cidade


    Dentro de ti, ó cidade

    O povo é quem mais ordena

    Terra da fraternidade

    Grândola, vila morena


    Em cada esquina, um amigo

    Em cada rosto, igualdade

    Grândola, vila morena

    Terra da fraternidade


    Terra da fraternidade

    Grândola, vila morena

    Em cada rosto, igualdade

    O povo é quem mais ordena


    À sombra duma azinheira

    Que já não sabia a idade

    Jurei ter por companheira

    Grândola, a tua vontade


    Grândola a tua vontade

    Jurei ter por companheira

    À sombra duma azinheira

    Que já não sabia a idade


    Zeca Afonso


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    ===/\===




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    Mãe


    Mãe... São três letras apenas

    As desse nome bendito;

    Também o céu tem três letras

    E nelas cabe o infinito.


    Para louvar nossa mãe,

    Todo o bem que se disser

    Nunca há de ser tão grande

    Como o bem que ela nos quer.


    Palavra tão pequenina,

    Bem sabem os lábios meus

    Que és do tamanho do céu

    E apenas menor que Deus!


    Mario Quintana



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    Para a minha Mãe


    Mãe, preciso de ti

    Como as plantas precisam de sol,
    Como as aves precisam de ninho,
    Eu preciso do teu carinho.


    Mãe, como é difícil

    Viver sem a proteção do teu ombro.

    Às vezes a vida me parece um escombro,

    Por viver longe de ti.


    Há tantas, tantas coisas

    Que ficaram por dizer,

    Outras tantas, que ficaram por fazer,

    Por viver longe de ti.


    Tua boca sempre me sorri,

    Mesmo que feche meus olhos.

    Nos momentos em que só vejo escolhos,

    Mãe, preciso tanto de ti!


    Maria Santos



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    Imagens da Internet

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  • Gostava de morar na tua pele



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    Gostava de morar na tua pele

    desintegrar-me em ti e reintegrar-me

    não este exílio escrito no papel

    por não poder ser carne em tua carne.


    Gostava de fazer o que tu queres

    ser alma em tua alma em um só corpo

    não o perto e o distante entre dois seres

    não este haver sempre um e sempre o outro.


    Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum

    tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém

    seremos sempre dois sendo só um.


    Por isso esta ferida que faz bem

    este prazer que dói como outro algum

    e este estar-se tão dentro e sempre aquém.



    Manuel Alegre in: Obra poética


    ===/\===


    SONHO


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    Entras devagar pelos meus sonhos

    Fazes amor comigo uma e outra vez

    na inocência do meu sonho

    Te entregas aos meus dedos

    como se fosse a continuação de ti
    murmuras palavras loucas
    e levas-me na tua loucura
    não se acaba nunca
    este sonho de amor .


    Quando chega o dia

    te guardo em mim

    cá dentro

    fingindo que te esqueci

    Mas tu sabes

    é impossível esquecer um beijo

    que me fez desmaiar

    Nunca se apagará de mim

    tanta ternura que vi

    um dia no teu olhar


    E assim durante o dia

    fingindo que te esqueci

    escrevo para ti

    mascara irónica eu sei

    mas escrevendo para ti

    o tempo passa e a noite vem

    e traz-te de novo

    para me amares

    no meu sonho


    Ana Moncado in: As ondas da minha praia


    ===/\===



    ~~~~DAR~~~~


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    Posso dar-vos mil diamantes, mil gemas,

    Doar-vos mil pingentes de jóias preciosas,

    Ofertar-vos mil tiaras de ouro e diademas,

    Ou mil grinaldas de duas mil e uma rosas…



    Se eu não souber conjugar o verbo amar,

    Se eu o que fizer não for feito com amor,

    De nada serve o que eu vos possa ofertar,

    Porque o que se dá sem amor não tem valor.



    Porém, se numa lágrima, numa somente,

    Puseres o vivo palpitar do teu coração,

    O teu querer, o bem que a tua alma sente,

    Eu te digo: - Não há mais perfeita oblação.


    Autor desconhecido


    ===/\===


    Cavalinho cavalinho


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    Cavalinho, cavalinho

    Que baloiça e nunca tomba;

    Ao montar meu cavalinho
    Voo mais do que uma pomba!



    Cavalinho, cavalinho,

    De madeira mal pintada:

    Ao montar meu cavalinho

    As nuvens são minha estrada!


    Cavalinho, cavalinho

    Que meu pai me ofereceu:

    Ao montar meu cavalinho

    Toco as estrelas do céu!


    Cavalinho, cavalinho

    Já chegam meus pés ao chão:

    Ao montar meu cavalinho

    Que triste meu coração!…


    Cavalinho, cavalinho

    Passou tempo sem medida:

    Tu continuaste baixinho

    E eu tornei-me tão crescida.


    Cavalinho, cavalinho

    Por que não cresces comigo?

    Que tristeza, cavalinho,

    Que saudades, meu Amigo!


    Matilde Rosa Araújo, in: O Livro da Tila


    ===/\===


    1 de Junho - Dia das crianças



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    Nunca abandones a criança que existe dentro de ti. Deixa-a viver

    Havia um menino


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    Havia um menino

    que tinha um chapéu

    para pôr na cabeça

    por causa do sol.


    Em vez de um gatinho

    tinha um caracol.

    Tinha o caracol

    dentro de um chapéu;

    fazia-lhe cócegas

    no alto da cabeça.


    Por isso ele andava

    depressa, depressa

    p’ra ver se chegava

    a casa e tirava

    o tal caracol

    do chapéu, saindo

    de lá e caindo

    o tal caracol.


    Mas era, afinal,

    impossível tal,

    nem fazia mal

    nem vê-lo, nem tê-lo:

    porque o caracol

    era do cabelo.


    Fernando Passoa

    Ilustração de: Cristina Ruivo

    JI7Lx0X.png

      ASSINATURA-3.png

    We are nothing but the ashes of Stars, long since blotted out in Time

    I have no enemies, I have angry fans

    In game (megar) - BR: Kronos [DJE], Phobos [-KJ-], Helios [NZDOM] EN: Perseus, [Slack], Ares Global 1 [LEGA]

    Me too - BR: Kronos - megar72 [D J L], Helios - megar65 [NZDOM], Phobos - megar66 [-HK-] EN: Ares Global 1 - megar75

    Ex-Redactora do Papyrus /\ Ex-Super Game Operator on Ikariam.Pt /\ Moderator on Ikariam.Br /\ Redactora d'O Ikariano

    megar - Em jeito de APRESENTAÇÃO e recordações