Devido à fusão de comunidades e uma vez que, em consequência; o fórum.Pt vai ser eliminado, copio para aqui, o que sobrou do meu tópico no fórum.Pr.
O tópico destina-se a postar poemas (escritos ou cantados), por todos os users que se interessam pelo tema.
===/\===
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"
===/\===
Quote from @ZarohpyelDisplay MoreSoneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moares, in Poemas
===/\===
A MULHER
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosas duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
Florbela Espanca
===/1===
A Torpe Sociedade onde Nasci
Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.
Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!
Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...
E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!
Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
===/\===
Quote from @mata hariDisplay MoreMenina Triste
A menina está triste.
Uma sombra no olhar,
coração apertado.
As lágrimas caem,
o sorriso da menina se apagou.
O menino se foi.
No vazio que ficou,
a menina sente frio.
Na noite escura
lençóis sem perfume,
a menina não dorme.
Tenta sonhar,
mas,
onde está o menino?
Quer encontrá-lo no sonhos,
mas ele não está lá.
Suas mãos tateiam,
buscam em vão.
Seu corpo quente
sua pele macia,
deixaram marcas
tatuadas no corpo da menina.
O sol já não brilha,
a música silenciou.
A dor da ausência
corrói o coração da menina.
Triste e sozinha,
desesperançada,
segue seu caminho.
Os sonhos e ilusões
já não fazem parte da bagagem.
A lembrança dos olhos do menino
servem de companhia,
mas,
frios e duros,
já não aquecem o coração da menina.
E a menina chora,
triste e só,
chora.
(Regina Montanari
12/05/2010 )











































































